Trinta e cinco anos de lutas em defesa do meio ambiente no Brasil trouxeram resultados pífios. Sociedade, governo e empresários continuam muito aquém do necessário para inverter a destruição do meio ambiente de índices positivos para índices negativos. Só neste ano da graça de 2005, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou sua primeira pesquisa específica sobre o estado do meio ambiente no Brasil. A investigação, realizada em 2002, entrevistou gestores públicos de 5.560 municípios e se intitula "Perfil dos Municípios Brasileiros - Meio Ambiente 2000".
Cabe salientar, logo de cara, que se trata de um levantamento quantitativo, confiando nos administradores públicos, normalmente nada confiáveis, pois que não querem fazer revelações que comprometam a imagem do município e também não têm a mínima sensibilidade para perceber o que ocorre diante de seu nariz. Feitas estas ressalvas, a pesquisa mostrou que:
· O maior problema ambiental reconhecido pelos municípios é o assoreamento de rios, lagos e açudes, com 53% do total. Os gestores atribuem-no à supressão da mata ciliar (70%), ao desmatamento mais amplo (67%) e à erosão e deslizamento de encostas (56%). As soluções apontadas pelos administradores são a recomposição da vegetação nativa (37%), a dragagem e limpeza de canais (37%) e o combate à erosão (35%). O campeão brasileiro em assoreamento é o Estado do Espírito Santo, com 88% em relação aos outros problemas. Faz sentido, pois o Espírito Santo quase acabou com a Mata Atlântica em seu território, gerando um baile de erosão.
· Alterações ambientais com efeitos sobre a qualidade de vida ocupam o segundo lugar da lista, com 41% do total. Segundo as respostas, os principais problemas a concorrerem para este estado são o esgoto a céu aberto (46%), o desmatamento (45%) e as queimadas (42%). É de se notar que, qualitativamente, o fogo e a queima de combustíveis fósseis representam uma grande queixa por parte da população, e a zona açucareira do norte-noroeste fluminense conhece bem o problema.
Em suma, continuam botando fogo no Brasil. Como soluções, as autoridades municipais propõem o controle de vetores de doenças (70%), a ampliação do abastecimento d’água (53%) e a educação (53%). Pernambuco está na liderança com 82%.
· A poluição da água ficou em terceiro lugar, apontando-se para ela o despejo de esgoto doméstico (75%), o uso de agrotóxicos e fertilizantes (42%) e a criação de animais (39%). As soluções apontadas pelos governos municipais são a ampliação da rede de esgoto (52%), a fiscalização do despejo de resíduos domésticos (51%) e o controle da ocupação urbana (40%). O campeoníssimo é o Estado do Rio de Janeiro, com 77% em relação ao total dos problemas. Isto significa que, em termos de falta de saneamento, o Rio de Janeiro está no degrau mais alto do pódio. A confiar na pesquisa, devemos desconfiar dos governos do Estado e municipais.
· Em quarto lugar vêm as alterações que afetam negativamente a paisagem por conta da erosão (35%), da ocupação irregular do solo (33%) e de empreendimentos imobiliários (28%). Para corrigi-las propõem-se o controle da ocupação urbana (38%), o controle do desmatamento (36%) e a recomposição da vegetação (35%). Neste tópico, a corrida foi vencida pelo Amapá, com 81%.
· A contaminação do solo ocupa o quinto lugar na escala de problemas, e os fatores apontados para ela são o uso de fertilizantes e agrotóxicos (63%), a destinação inadequada de esgoto doméstico (6%) e o chorume (38%). Para combatê-la, o poder público municipal entende ser necessário fiscalizar o despejo de resíduos domésticos (51%), implantar aterros sanitários (40%) e fiscalizar a contaminação oriunda de animais (36%). Novamente, o Espírito Santo aparece no mapa, respondendo com 64%. Principalmente o uso de insumos químicos na lavoura, considerado o mais grave problema neste item, liga-se ao grande desmatamento que sofreu o Espírito Santo, reduzindo as formações vegetais nativas a uma poeira. Este desmatamento visou a abertura de terras para lavouras e pastos com um grande uso de fertilizantes químicos e de agrotóxicos.
· A poluição do ar vem em sexto lugar, causada, primeiramente, por queimadas (64%), vias não pavimentadas (41%) e atividade industrial (38%). As soluções apontadas são o controle das queimadas (28%), a fiscalização de atividades extrativistas (27%) e a fiscalização de atividades industriais (21%). A liderança está com o Amapá, que aparece pela segunda vez na pesquisa, com 63%. A relação entre queimada e poluição do ar é direta. Já a atividade industrial aparece meio deslocada, pois o Estado não é industrializado. A menos que consideremos uma liberdade de funcionamento muito grande para as poucas indústrias implantadas no Amapá.
· Por fim, aparece a degradação de áreas protegidas pelo desmatamento (69%), pelas queimadas (51%) e pela caça de animais silvestres (38%). As propostas apontadas para atacar os problemas são o combate ao despejo de resíduos domésticos (50%), o controle da ocupação urbana (43%) e a recomposição da vegetação nativa (42%). Mais uma vez, o Amapá figura na pesquisa ocupando o primeiro lugar com 56%, o Estado mais degradador do meio ambiente.